As vozes da tradição sobre Maria Madalena

As vozes da tradição sobre Maria Madalen

 

Frei Jacir de Freitas Faria

 

Nos evangelhos, Maria Madalena é a figura feminina mais importante. Maria, mãe de Jesus, tem um papel importante na infância de Jesus, mas não no corpo dos evangelhos. Sem contar as repetições, Maria Madalena aparece 12 vezes nos evangelhos. Atos dos Apóstolos simplesmente ignoram a pessoa de Maria Madalena. Já os apócrifos, textos que ficaram fora da Bíblia, consideram Maria Madalena como espírito da Sabedoria; personificação da gnose (conhecimento); amada de Jesus; adversária de Pedro; ministra da evangelização; discípula e apóstola de Jesus.

A tradição judaica, hostil a Jesus, também ensinou que Maria Madalena era adúltera. O Talmude chega a confundir Maria Madalena com Maria, mãe de Jesus. Na história da Igreja, destacam-se os testemunhos de Ambrósio, o qual diz que Madalena poderia ter sido pecadora. Pedro Crisólogo diz que Madalena é o símbolo da Igreja “Santa e Pecadora”.

Quanto ao anúncio da ressurreição às mulheres, Crisólogo afirma: “Neste serviço, as mulheres precedem aos homens, elas que pelo sexo vêm depois dos homens, por ordem (hierárquica) depois dos discípulos: mas não por isso estão a significar que os apóstolos sejam mais lentos, pois elas levam ao sepulcro do Senhor não a imagem de mulheres, mas a figura da Igreja".

Honório de Autun atribui a Maria Madalena uma vida inclinada à libido e, por isso diabólica, quando escreve: “(O Senhor...) nos colocou diante da bem-aventurada Maria Madalena como exemplo de sua clemência. Narra-se que esta era a irmã de Lázaro, que o Senhor fez ressuscitar do sepulcro depois de quatro dias, e foi também irmã de Marta que com frequência ofereceu hospitalidade ao Senhor."

Esta Maria foi enviada para junto ao marido na cidade de Mágdala, mas fugindo dele foi para Jerusalém, esquecendo-se de sua família, esquecida da lei de Deus, tornou-se uma vulgar meretriz; e após se tornar prostíbulo da torpeza, se tornou também, por conseguinte, sacrário dos demônios; de fato, entraram nela sete demônios todos juntos, e constantemente a atormentavam com desejos imundos”.

Maria Madalena foi proclamada, em 1050, padroeira de uma abadia de monjas beneditinas. A ideia seria mostrar que Maria Madalena se arrependeu e tornou-se eremita. Na França, ela é tida como padroeira dos perfumistas e cabeleireiros. Maria Madalena é celebrada pela Igreja Católica no dia 22 de julho. Ela é também a padroeira das prostitutas.

Na liturgia devocional da Idade Média encontram-se laudes completas dedicadas a Maria Madalena. Maria Madalena inspirou muitos pintores, os quais a retratam como mulher pecadora; penitente; bela e formosa; velha e solitária; que unge Jesus; que ampara Maria, a mãe de Jesus; que anuncia o ressuscitado; discípula que acompanha Jesus em sua agonia.

A personagem Maria Madalena foi tratada no decorrer da história cristã como mito de pecadora redimida. De prostituta virou santa para morar no imaginário coletivo como mulher forte e exemplo de vida cristã. Infelizmente, esse foi um bem, que para se firmar, teve que fazer uso de inverdades como a história de Maria Madalena, a prostituta.