Jo 1,1-18: É NATAL, PRINCÍPIO DO FIM DA PALAVRA PANDEMIA! Nasce uma criança, tudo recomeça!

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É NATAL, PRINCÍPIO DO FIM DA PALAVRA PANDEMIA!

Nasce uma criança, tudo recomeça! Com a palavra Jo 1,1-18

 

Frei Jacir de Freitas Faria, OFM[1]

Hoje é Natal! Amanhã, mais precisamente, daqui a seis dias, um novo ano surgirá no horizonte de nossas vidas. Nessa perspectiva, proponho refletir a partir das palavras iniciais do evangelho que nos inspiram, Jo 1,1-18: “No princípio era a Palavra. E a Palavra estava com Deus.” A Palavra criadora de Deus que faz.

No princípio do ano que ora finda, a palavra das rodas de conversa era um desconhecido e invisível vírus de origem chinesa, batizado de coronavírus que estava prestes a nos atacar. Tudo era muito incerto! O que poderia acontecer? Pouco se sabia do que estava reservado para a humanidade. Assolado pela morte avassaladora, o planeta terra se viu trancado em suas próprias casas. A palavra coronavírus cedeu lugar a uma pior, pandemia, que é sinônimo de peste. A pior das pandemias que humanidade sofreu foi a bubônica (séc. XIV), também chamada de negra, devido às manchas escuras na pele dos infectados causadas por uma bactéria, também de origem chinesa, chamada de Yersínia.

Assistimos em 2020 à politização da peste, a morte sem despedida, o sofrimento de agonizantes. Foi um ano em que a palavra que foi barrada pela parede de máscaras das mais variadas cores e tons de vozes que não sabiam o que dizer.

No princípio de março, o Brasil se viu mergulhado numa pandemia que ainda não terminou, ainda que a ciência corra veloz com os milhares de tipos de vacina. No princípio, na inspiração de João, o evangelista, que, segundo a tradição, é representado pela águia, por nos apresentar, com suas reflexões, a profundidade do mistério de Deus no meio de nós, estão as primeiras palavras do livro de Gênesis: “No princípio, Deus criou com a sua palavra” (Gn1,1), as quais ele acrescenta: no princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus. Na Palavra de Deus está a vida, vida que é a luz para os nossos passos, luz que ilumina as trevas de nossas vidas. Luz que é sinônimo de Natal.

A mulher grávida de sonhos dá à luz uma criança, um bebê que simboliza a esperança. O que será de sua vida? Nem a criança, tampouco a mãe o sabe. Basta esperar e sonhar. Por isso, Natal é também o maior simbolismo do sonho de um novo tempo, como na lenda egípcia da fênix que renasce das cinzas ou do pelicano que renasce a partir do seu próprio sacrifício.

O nosso eterno poeta, João Guimarães Rosa, escreveu em Grandes Sertões: Veredas: “nasce uma criança, tudo começa de novo”. Isso é Natal! Deus se fez carne na criança de Belém, mas a mudança só pode vir do adulto Adão e Eva, imagens figurativas da Palavra criadora de Deus. Ele se fez criança, mas nos criou adultos, de modo que tomemos consciência de nossas limitações, dos sofrimentos que invadem as noites escuras de nossas vidas. Deus se fez carne, isto é, nos assumiu por inteiro na nossa humanidade que recebe a luz que vem Dele.

O adulto Adão, que nunca foi criança, contrasta-se com a criança de Belém. Simples de entender. Para o judeu do Primeiro Testamento, o homem novo só pode vir do adulto, pois criança não tem valor. Para os cristãos do Segundo Testamento, o novo começa do princípio de uma vida que nasce cheia de esperança, na experiência de Deus que se faz pequeno.  Na verdade, somos eternamente crianças que esperam e adultos ansiosos por renascer, por recomeçar.

Recomeçar após o árduo sofrimento de um ano marcado pela pandemia. Vamos acreditar que um novo tempo está próximo. Voltemos ao normal de nossas vidas com certeza de que tudo terá que ser diferente. É Natal, princípio do fim da palavra pandemia. Princípio da Palavra recriadora de Deus. Para que no ano novo renasça um novo ser humano, tudo depende de nós, de novas relações. Que a Luz de Deus do Natal brilhe em carne, em nosso ser. E tudo será diferente. Acredite. É Natal!   

 


[1] Doutor em Teologia Bíblica pela FAJE-BH. Mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Professor de Exegese Bíblica. Membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Sacerdote Franciscano. Autor de dez livros e coautor de quatorze. Últimos livros: O Medo do Inferno e a arte de bem morrer: da devoção apócrifa à Dormição de Maria às irmandades de Nossa Senhora da Boa Morte (Vozes, 2019). Coautor de: A releitura do Deuteronômio nos evangelhos. In: KONINGS, Johan; SILVANO, Zuleica Aparecida. (Org.). Deuteronômio: Escuta, Israel. 1ed.São Paulo: Paulinas, 2020, v. 1, p. 187-230. Inscreva-se no nosso canal: https://www.youtube.com/c/FreiJacirdeFreitasFariaB%C3%ADbliaAp%C3%B3crifos